Os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, copresidentes do conselho de administração do Itaú, e Candido Bracher, ex-presidente do banco e hoje também integrante de seu conselho, assinaram o manifesto em defesa da democracia, organizado pela Faculdade de Direito da USP e por entidades e representantes da sociedade civil. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) também assinou o documento. A Caixa, o BB e a BV Financeira se recusaram.
A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito” já foi assinada por mais de 3 mil pessoas e critica as ameaças do governo Bolsonaro à democracia e ao resultado das eleições. “Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições. Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz o documento.
O texto também reforça o posicionamento contrário a um possível golpe, vislumbrado por Bolsonaro, caso perca as eleições. “No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições”, conclui.
Simbolicamente, a carta será lida no dia 11 de agosto, no Pátio das Arcadas do Largo de São Francisco, pelo ex-ministro do STF Celso de Mello. A data marca a fundação dos cursos jurídicos no Brasil.
Insatisfação
Insatisfeito com a adesão de banqueiros à carta contra Bolsonaro, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, tentou justificar a assinatura à perda de receita devido ao Pix. “Se o senhor faz alguém perder [R$] 40 bilhões por ano para beneficiar os brasileiros, não surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor”, afirmou no Twitter. Nogueira só esqueceu de falar que os bancos têm registrado lucros recordes durante o governo Bolsonaro.
Nogueira afirmou ainda que os banqueiros podem criticar o governo e o presidente porque o Banco Central é independente. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal decidiu manter a autonomia do BC, sob argumento de que o órgão precisa ser blindado de influência política.
Para o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região, a carta em questão é uma ferramenta importante na luta contra os ataques antidemocráticos de Bolsonaro. A adesão dos banqueiros ao documento tem segundas intenções, contudo, não deixa de defender a democracia. Já a recusa do BB e da Caixa não surpreende, pois ambos estão à sombra de Bolsonaro, assim como a BV, que possui o BB como um de seus acionistas.
Assine o documento: https://www.estadodedireitosempre.com/assinar