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Fala, bancário!

06/07/2021

Bancos: Caixa Econômica Federal

Luzia viveu alguns clichês e obviedades. Deu a vida pelo trabalho. Não era mocinha. Sua garra e sua força disfarçavam o fato de já estar aposentada e já ter acumulado mais de cinquenta primaveras. Tinha problemas de saúde. Graves. Problemas pessoais. Vários. Mas não tinha problemas financeiros. Podia ter aderido a algum PDV passado. Não aderiu. Porque acreditava que ainda tinha muita coisa pra fazer. Que podia somar muito pra CAIXA e, principalmente, desejava tocar a alma de muitos colegas.

É verdade que o mundo precisa de muitas Luzias. E também é verdade que o mundo não valoriza as Luzias. Mas ela amava o que fazia e cria em dias melhores. Dias em que um abraço sincero voltaria a valer mais que um número. Mulher e guerreira, conquistou tudo espalhando amor e muita amizade por onde passava.

Veio a pandemia. Amigos próximos, eu inclusive, insistimos para pedir o home office. “A equipe precisa de mim” eu ouvia contrariado. É claro que precisava: a gente tinha q chegar “uma hora antes da abertura da agência” pra organizar as filas intermináveis e não tinha hora pra sair. Recebemos um rótulo não solicitado de “herói de crachá” e, por trás da ilusão do “pessoas em primeiro lugar” tinha o peso das metas nas costas. Auxílio. Direcionador. BEM. Direcionadoressssss. PRONAMPE. Conquiste. CROSS SELL. Seguridade. Cobranças normais numa realidade muito longe do normal. Mas normais o suficiente pra, sob a égide da meritocracia relativa, resultar nas famosas “alterações na rede”.

Luzia saiu de Jaú, foi “rebaixada” pra uma agência menor, em Itirapina. Mudança de casa e de cidade. Salário menor. Home office?? Cada home office numa agência daquele tamanho era uns 20% da equipe em casa. Lá, nem diarreia poderia ter.

E, ignorando o fato do seu antecessor ter ficado, com todas as justificativas, em home office desde o início da pandemia, Luzia novamente optou por ficar na linha de frente. Não tinha nada a provar pra ninguém. Só que sobrou altruísmo e faltou algo que falta em muitos de nós: uma pitada de egoísmo. Não o egoísmo oportunista de pisar nos outros pra ser promovido. Faltou o egoísmo inocente. Daquele de pensar nos nossos pais, filhos, maridos e esposas.

Hoje, os pais da Luzia, já muito idosos, estão enterrando sua filha sem direito a velório, seu esposo segue hospitalizado também com Covid e sua filha está com o coração despedaçado e em total desespero.

E a CAIXA?? Rapidamente vai haver um processo pra ocupar sua vaga numa agência em frangalhos e com mais dois (até agora) contaminados.

Recentemente, vimos um colega perder irmão e pai para a Covid. Houve trinta minutos de luto.

Pra Luzia vai ser um pouco mais porque, como boa trabalhadora, aguardou até o fechamento de semestre,  entregando 106% da meta.

E, na CAIXA, morrer no sábado não atrapalha o tráfego, um claro case de sucesso.

Desabafo de um bancário (terá a identidade preservada), após a morte da colega Maria Luzia Rodrigues, gerente geral da Agência Itirapina, da Caixa Econômica Federal, que faleceu no último domingo (4), vítima da Covid-19.

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