Nas últimas semanas, casos de violência contra mulheres, marcados por atos covardes e cruéis cometidos por namorados e companheiros, repercutiram nacionalmente. Os episódios causaram tristeza e revolta na sociedade, escancarando a urgente necessidade de punições mais severas aos agressores, políticas públicas de proteção às mulheres e maior investimento em acolhimento digno às vítimas.
Contrariando completamente esse compromisso de acolhimento e proteção, o Bradesco demitiu uma bancária que foi perseguida, agredida e ameaçada de morte pelo então namorado. O caso, ocorrido em São Paulo, foi denunciado pelo sindicato de lá.
Segundo relato da trabalhadora, seus superiores tinham pleno conhecimento da situação. Após ser ameaçada de morte por mensagens no WhatsApp, ela se mudou para uma residência próxima à agência onde atuava. O agressor passou a persegui-la no local de trabalho, rondando a unidade de carro e fazendo ligações insistentes para a agência. Chegou até mesmo a abrir reclamações no Banco Central. Diante disso, os gestores sugeriram sua transferência para outra unidade.
“A GG falou que eu não poderia ficar naquela agência porque estava trazendo risco não só para os demais funcionários, mas também para os clientes. Ela ligou para o gerente regional e resolveram me transferir. Eu estava para ser promovida para o setor digital, mas o novo gerente perguntou o real motivo da transferência. A GG falou que a minha vida estava um caos, que eu estava sofrendo ameaças de morte, que meu ex-companheiro tinha aparecido na agência. Contou tudo o que estava acontecendo”, relatou a vítima.
Duas semanas depois, ela foi demitida. “Falaram que nada poderia ser feito, que a ordem veio lá de acima, mas depois a GG disse ‘você sabe o real motivo’. (…) Fui demitida fazendo processo de terapia que eles mesmos me indicaram, afirmaram que o banco estava comigo, que iam me apoiar. Um dia o advogado e o responsável pela segurança corporativa me acompanham na delegacia, e no outro sou demitida. Foi um susto. Eu não esperava, porque toda hora diziam que estavam do meu lado”, desabafou.
O sindicato responsável pela base solicitou a reintegração da bancária, mas o Bradesco recusou, alegando que ela “não tinha perfil” para trabalhar na instituição (a mesma onde ela estava prestes a ser promovida antes do desligamento).
O Sindicato dos Bancários de Bauru e Região repudia a postura do banco, que falhou em não acolher uma funcionária em situação de extrema vulnerabilidade e optou por demiti-la, aprofundando ainda mais sua dor. O mínimo que se espera de uma empresa do porte do Bradesco é o compromisso real com a proteção das mulheres, especialmente em situações de risco. Transformar a vítima em problema e descartá-la é cruel, insensível e completamente irresponsável!
Machismo mata!
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. De janeiro a julho deste ano, a Central de Atendimento à Mulher, do Ministério da Mulher, contabilizou 86.025 denúncias de violência. Ou seja, 16,91 denúncias por hora de janeiro a julho. São Paulo é o estado com maior número de denúncias.
A 19ª Edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada em julho, mostrou que mesmo com a diminuição na taxa global de mortes violentas intencionais no Brasil, as estatísticas de feminicídio bateram, novamente, o recorde da série histórica, iniciada pelo anuário em 2015, com aumento de 0,7% de casos no ano de 2024 em comparação com 2023. No total, 1.492 mulheres foram assassinadas no período.
O Ligue 180 é o canal oficial do Governo Federal para acolhimento, orientação e registro de denúncias, destinado às mulheres em situação de violência. O canal é gratuito, sigiloso e disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, incluindo feriados. As denúncias também podem ser feitas por WhatsApp, pelo número (61) 9610-0180.