O governo Bolsonaro está desesperadamente em busca de recursos para bancar o programa Renda Cidadã, que pode vir a substituir o Bolsa Família. Para que o programa saia do papel, uma das mais recentes ideias do ministro da Economia, Paulo Guedes, é acabar com a possibilidade de se abater da declaração simplificada do imposto de renda (IRPF) 20% dos rendimentos tributáveis.

Sobre esse assunto, o experiente jornalista econômico José Paulo Kupfer escreveu ontem, 5, em sua coluna no UOL, uma observação bastante pertinente: “a equipe de Guedes está sempre pensando em tirar dos pobres, ou dos um pouco menos pobres, para dar aos paupérrimos”. E, concluindo: “Tirar dos ricos, ou, mais ainda dos mais ricos, como seria natural, nem pensar.”

É o que o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região vem dizendo desde o início do mandato de Bolsonaro. O governo “joga para a torcida”, atua de maneira populista para obter dividendos eleitorais entre a camada mais vulnerável da população enquanto deixa os ricos importunados.

Mas, como explica Kupfer, “com a regra atual do teto de gastos, nenhum aumento de tributação poderia ser usada para o financiamento de qualquer programa de renda básica permanente”, já que “qualquer expansão ou redirecionamento de receitas públicas, seja por crescimento da economia, seja por alterações no sistema tributário, de acordo com o teto, só pode ser destinado à redução da dívida pública”.

“O teto só permite aumentos de despesas na exata proporção da variação da inflação do ano anterior” e “não é afetado por qualquer variação na arrecadação tributária”, esclarece o jornalista.

Dessa maneira, a única serventia da ideia de Paulo Guedes é demonstrar, para quem ainda não percebeu, que o objetivo do governo é “atingir mais diretamente a classe trabalhadora, deixando intocados os abatimentos dos que, com rendas mais altas, podem bancar planos de saúde e médicos particulares, assim como escolas privadas”, como bem observou José Paulo Kupfer.