Pressionado pelo aumento significativo da inadimplência de produtores rurais e consequente queda na lucratividade no primeiro semestre, o Banco do Brasil tem buscado se recolocar no mercado através da mesma política agressiva das instituições privadas, priorizando resultados financeiros a qualquer custo.
Essa postura tem gerado uma intensa pressão adoecedora sobre os funcionários, com exigências de metas que ultrapassam os limites do razoável e configuram assédio moral institucional. A situação é nacional. Em julho, as metas da Rede Varejo foram ampliadas de 500 para 750 pontos. Das 26 superintendências do BB espalhadas pelo país, apenas uma atingiu as metas naquele mês, segundo dados do Conexão.
Inadimplência
De forma absurda, a inadimplência dos clientes também interfere na pontuação. Ou seja, ainda que o trabalhador não tenha qualquer responsabilidade sobre a falta de compromisso financeiro de um cliente com o banco, ele é prejudicado.
Além disso, o BB endureceu as regras de renegociação, impondo condições mais complexas, garantias adicionais e taxas de juros altíssimas. Com isso, diminuiu as chances de regularização das dívidas e, consequentemente, piorou a pontuação dos bancários.
PDG em queda
As mudanças também impactaram o PDG (Programa de Desempenho Gratificado), que remunera os funcionários com base em metas individuais e coletivas. Em agosto, a variável paga foi considerada irrisória. O que antes servia de compensação mínima para o sofrimento causado pela pressão, hoje não cobre a sobrecarga enfrentada no dia a dia.
Bauru e Marília
Nas últimas semanas, o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região recebeu denúncias diárias sobre as metas abusivas impostas pelas regionais de Bauru e Marília. Enquanto em Bauru há ameaças de descomissionamentos, em Marília, segundo trabalhadores, o superintendente regional “segurava” ao final do dia o GG que não atingisse a meta.
Reunião
No dia 25 de agosto, o diretor da entidade e bancário do Banco do Brasil, Paulo Tonon, participou de reunião com o regional de Marília e expôs o descontentamento dos funcionários perante sua conduta. Após o encontro, não houve mais denúncias, o que demonstra que a situação foi aparentemente solucionada.
Para o Sindicato, os regionais agem dessa forma porque o assédio é institucionalizado. Ou seja, o próprio banco incentiva, tolera e legitima práticas abusivas, usando sua estrutura para constranger e expor funcionários.
Contradição
O BB oferece aos seus funcionários, por meio da Universidade Corporativa, o curso “Assédio: Conhecer, prevenir e combater”. No entanto, a prática contradiz o discurso. O próprio conteúdo do curso define assédio institucional como “a utilização de práticas desumanas, muitas vezes disfarçadas de políticas de produtividade, criando uma política de controle excessivo, com o objetivo de aumentar a produtividade e reduzir custos”.
A definição apresentada descreve exatamente o que a instituição pratica contra seus trabalhadores. Uma contradição vergonhosa e que deve ser corrigida urgentemente.“É inadmissível que o BB se transforme em um espaço de exploração e adoecimento. O assédio institucional é um dano coletivo. Ele não pode e não será tolerado! Não aceitaremos metas abusivas, perseguições e descomissionamentos arbitrários. Nossa luta é por respeito, valorização e condições de trabalho justas!”, frisou Tonon.
Caso o assédio persista, o Sindicato irá denunciar a situação ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Seguimos de olho!