Depois de oito anos suspensas, as comemorações do golpe militar de 1964 (que derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura que durou 21 anos) voltaram a ocorrer este ano, por determinação do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, o 31 de março de 1964 é uma “data histórica” e seu aniversário deve ser celebrado nas unidades das Forças Armadas de todo o país.
Para o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região, não há dúvida de que se trata de uma data histórica. O 31 de março de 1964 foi o marco inicial de um dos períodos mais sombrios da história brasileira. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, durante a ditadura mais de 430 opositores do regime foram sumariamente assassinados por forças militares – sem contar as vítimas de torturas, de prisões arbitrárias, de perseguição política e de censura.
Sim, o período como um todo deve ser sempre lembrado, deve estar vivo na memória do país, mas “celebrar” a data do golpe em si é um retrocesso.
Um passo pra trás
Essa comemoração havia sido excluída do calendário militar em 2011, já no primeiro mandato de Dilma Rousseff, que foi, ela mesma, vítima de tortura nos porões da ditadura. Infelizmente, Bolsonaro preferiu investir no acirramento dos ânimos, na provocação desnecessária, no desrespeito.
Consta que a decisão do presidente foi recebida com surpresa até mesmo pelos generais que fazem parte do primeiro escalão do governo, que pediram cautela no tom da comemoração.
Após receber críticas de inúmeros setores da sociedade, Bolsonaro afirmou que não se trataria de uma “comemoração”, mas de uma “rememoração”. No entanto, todos sabem o que ele pensa sobre a ditadura e um de seus mais famosos torturadores, o coronel Brilhante Ustra.
O jornal O Estado de S. Paulo obteve um esboço da ordem do dia que seria lida pelos comandantes militares no dia 31 e informou que “o texto único ressaltará as ‘lições aprendidas’ no período, mas sem qualquer autocrítica aos militares”. Vergonha!